Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Álvaro André Zeini Cruz (UNICAMP)

Minicurrículo

    Doutorando e Mestre (2013) em Multimeios pela UNICAMP. Pós-graduado em Argumento e Roteiro pela FAAP (2012). Bacharel em Cinema e Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná (2009). Montador do curta-metragem Água Viva. Diretor e roteirista dos curtas-metragens Palhaços, Mimese , Memórias do meu tio e Janelas. Idealizador, crítico e editor da revista Pós-créditos, publicação online voltada à crítica audiovisual, iniciada sob o fomento do Serviço de Apoio ao Estudante da UNICAMP.

Ficha do Trabalho

Título

    A jornada dos heróis-cineastas em “A visita”

Resumo

    Este trabalho irá analisar as figuras dos dois personagens-cineastas protagonistas do filme “A Visita” e, a partir deles, investigar os olhares que se opõem – o que vê e o que mira –, bem como as formas como eles interagem, interferem e transformam um ao outro. A metalinguagem, vital ao filme, propiciará, portanto, discussões sobre mise en scène, estilo e sobre o próprio estatuto da imagem.

Resumo expandido

    Em “A Visita”, de M. Night Shyamalan, Becca (Olivia DeJonge) e Tyler visitam pela primeira vez os avós maternos, a quem até então não conheciam por conta de um desentendimento familiar.
    Becca, uma pretensa cineasta, decide desde o princípio gravar esse reencontro e transforma a viagem numa jornada do herói, cujo elixir, ela acredita, será o próprio filme, que irá curar os traumas da mãe. Mas como bons heróis da linguagem cinematográfica clássica, tanto ela quanto o irmão Tyler terão que cumprir uma jornada que fará com que eles próprios se transformem. A questão é que, dentro da estética do found footage – na qual a câmera está inserida na própria diegese –, ambos são mais do que personagens. São olhares lançados diante do mundo. São cineastas.
    Nessa correlação entre irmãos, são protagonistas e, ao mesmo tempo, mentores um do outro. Becca é o olho meticuloso, que mira com a câmera antes mesmo de ter o tempo que o olhar demanda. Ela constrói o mundo para a lente; é a diretora que crê nas imagens, mas, paradoxalmente, vive também um trauma delas, já que não consegue encarar-se em espelhos (apenas no vídeo) e não aceita a imagem paterna, que recobra o abandono, nem na versão eletrônica.
    Já Tyler, que vive os últimos suspiros da infância, tem um olhar liberto: quando empunha a câmera, vê, para em seguida – e se preciso –, estilizar o mundo através dos recursos da linguagem cinematográfica (como o contundente zoom que usa num momento singular). Ao contrário da irmã, Tyler para que a câmera é arma, Tyler não teme as imagens, mas sim o próprio mundo. Seus conflitos não envolvem as representações, mas o próprio corpo. Para ele, a câmera é escudo.
    Corpo, imagem, mundo, elementos vitais à cena, colocados sob a dicotomia lançada por Godard entre o ver e o mirar. Em A visita, M. Night Shyamalan mais uma vez coloca em questão a própria mise en scène, alinhando-a a uma dupla jornada de transformação, proveniente do cinema clássico americano. Assim, esta exposição (que se desdobrará num artigo), pretende investigar os diálogos entre narrativa e estilo, corpo e imagem, no filme A visita, dando continuidade dentro do recorte acadêmico a elucubrações por mim iniciadas num texto crítico ao filme.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto & Grafia, 2008.

    BLOCK, Bruce A. A narrativa visual: criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais. São Paulo: Elsevier, 2010.

    BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz. Campinas: Papirus, 2008.

    ___________, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Unicamp, 2013.
    OLIVEIRA JR, Luiz Carlos Gonçalves de. A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo/ Luiz Carlos Oliveira Jr. – Campinas, SP: Papirus, 2013.

    CRUZ, Álvaro André Zeini. A Visita. 2015. Disponível em: . Acesso em: 17 maio 2016.

    ____________, Luiz Carlos Gonçalves de. Vertigo, a teoria artística de Alfred Hitchcock e seus desdobramentos no cinema moderno — São Paulo, 2015.