Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Gianna Gobbo Larocca (UERJ)

Minicurrículo

    Gianna Larocca é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Design da Escola Superior de Desenho Industrial (UERJ). Possui Graduação em Comunicação Social – Cinema e Vídeo pela UFF. Atua profissionalmente como designer gráfico.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre a retórica e a base de dados: o material de arquivo no i-doc

Resumo

    Na delimitação do campo de estudos do documentário interativo, frequentemente a tônica é colocada nas implicações da tecnologia digital para o gênero. Alguns autores, contudo, apontam que é preciso observar a permanência de recorrências estético-discursivas do documentário tradicional para se situar em relação ao i-doc, contemplando o hibridismo do gênero. A partir dessa perspectiva, propomos pensar o tratamento do material de arquivo no i-doc A Short History of Highrise (Katerina Cizek, 2009).

Resumo expandido

    Mudanças tecnológicas podem contribuir para operar reconfigurações estéticas e metodológicas no documentário, redefinindo também o que é aceito institucionalmente como pertencente ao gênero. Um exemplo notório na historiografia do documentário é a relevância conferida à emergência de câmeras leves e aparelhos de gravação de som direto na conformação do cinema observativo e participativo, segundo os modos de representação propostos por Nichols (2014).
    Ênfase semelhante na importância da inovação tecnológica para a reconfiguração do gênero também tem sido frequentemente empregada pelos teóricos que se dedicam ao estudo dos documentários interativos (Gaudenzi, 2012 ; Aston, 2012). Documentários interativos (i-docs) são filmes distribuídos em plataformas web que se apropriam da tecnologia digital interativa no campo da exibição, afetando a experiência de fruição do espectador. Essa mudança implica uma modificação na forma de organizar o conteúdo narrativo e de solicitar a participação do expectador.
    Conforme Gaudenzi , o documentário interativo adiciona à demanda de interpretação, solicitações de participação física por parte do espectador, tais como clicar, mover, teclar. Além disso, segundo a autora, diferencia-se do documentário linear por agregar qualquer tipo de mídia e de borrar os limites entre as decisões do realizador e do espectador na conformação final do filme. No gênero emerge a potencialidade do papel colaborativo do espectador (muitas vezes chamado de usuário em consonância com a denominação comum na área de tecnologia digital). A participação do espectador-usuário diante da plataforma interativa costuma ser o eixo central dessas teorias que buscam estabelecer as bases de entendimento do i-doc.
    A ênfase na base tecnológica pode, contudo, obscurecer as relações que o i-doc guarda com o documentário tradicional linear. Tal abordagem motiva Gaudenzi a propor o i-doc como um novo gênero, à parte na história do documentário. A autora propõe uma taxonomia que ignora os componentes textuais tradicionais do gênero e contempla apenas os modos de interatividade colocados em jogo no i-doc, relevantes na medida em que informam diferentes negociações do espectador na construção do mundo histórico.
    Contudo autoras como Nash (2012) e Levin (2015), apontam que embora esse tipo de documentário traga questões inéditas para o gênero, não deixa de recorrer a estruturas textuais e estéticas sistematizadas na teoria dos documentários. Nash aponta que a audiência usa o conhecimento que tem dos documentários lineares para situar-se em relação ao i-doc. Também é relevante pontuar a aceitação da versão interativa no campo institucional do documentário, o que segundo Nichols é um dos parâmetros de definição de pertencimento ao gênero.
    Nash propõe pensar o i-doc em uma relação entre texto, espectador e as possibilidades de interação, em uma abordagem híbrida do gênero que permite colocar as propostas interativas e affordances da base digital dentro do regime discursivo específico de um filme – e não apenas de maneira generalizada como os modos de interação proposto por Gaudenzi sugerem. Assim pode-se observar como as oportunidades de interação são configuradas dentro do contexto do i-doc e como o seu enquadramento incentiva a participação do espectador em uma relação dialógica com tradição documental narrativa e o conhecimento prévio do espectador.
    A partir dessa abordagem, propomos pensar as continuidades e descontinuidades no tratamento do material de arquivo em documentários interativos, através da análise do i-doc A Short History of Highrise (Katerina Cizek, 2009). Contemplando as tradições do documentário linear no tratamento do material de arquivo e abordando as possibilidades interativas da plataforma digital que lhe permite acesso diferenciado, pretendemos tecer uma reflexão sobre as tensões e intersecções entre a retórica do tradição documental e a base de dados digital.

Bibliografia

    ASTON, J; GAUDENZI, S. “Interactive documentary: setting the field”. In: Studies in Documentary Film, 2012, pp. 125-139.
    GAUDENZI, S. Interactive documentary: towards an aesthetic of the multiple. Tese. MA Interactive Media of the London College of Media. University of London, 2009.
    LEVIN, T. “Do documentário ao webdoc – questões em jogo num cenário interativo”. In: Doc Online, 2015, pp. 5-32
    LIETAERT, M. Webdocs – A survival guide for on-line filmmakers, Bruxelas: Not So Crazy! Productions, 2011
    MANOVICH, L. The language of new media. Cambridge: MIT Press, 2001.
    NASH, K. “Modes of interactivity: analysing the webdoc”. In: Media, Culture & Societ, 2012. pp. 195-210.
    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. São Paulo: Papirus, 2014
    O’FLINN. S. Documentary’s metamorphic form: webdoc, interactive, transmedia, partipatory an beyond. In: Studies in Documentary Film, 2012, pp.141-157.
    WISTON, B. Technologies of seeing. Londres: British Film Institute, 1996.