Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Euro Prédes de Azevêdo Júnior (UFBa)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação Social pelo Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge-BA), Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Póscom) – UFBa e doutorando neste mesmo programa.

Ficha do Trabalho

Título

    A Chanchada em Paralaxe: perspectivas sobre um gênero

Resumo

    A proposta analisa o lugar ocupado pela Chanchada no pensamento nacional sobre o cinema. Buscamos entender os ‘terrenos’ epistemológicos sobre os quais se alicerçam estes discursos, dando conta dos elementos que possibilitam a emergência destes juízos e a possibilidade de mudança na atribuição de valor. A intenção é a de dar conta do que subjaz a estes discursos, compreendendo ‘gênero’ como um lugar em disputa e buscando realizar uma breve ‘genealogia belico-discursiva’ da Chanchada.

Resumo expandido

    Este Resumo Expandido e a apresentação dele derivada são resultados de uma pesquisa de Doutorado ainda em progresso no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Póscom) da Universidade Federal da Bahia (UFBa). Esta pesquisa tem como objetivo geral estudar o gênero da Chanchada, mapeando os discursos teórico, acadêmico e crítico sobre as mesmas.

    Nos estudos que antecederam este trabalho, descobriu-se que os discursos sobre as chanchadas, desde o surgimento do gênero até meados da década de oitenta, atribuíam constantemente valores negativos a estes filmes; a partir dos anos oitenta, entretanto, as chanchadas passam por uma ‘virada interpretativa’ e começam a ser avaliadas mais positivamente. Com isso, temos o intuito de mapear os ‘terrenos’ epistemológicos sobre os quais se alicerçam estes discursos, buscando englobar dois processos: o da emergência destes juízos e o da própria possibilidade de mudança na atribuição de valor. É preciso compreender que termos, que substantivos estão em jogo no processo de ‘adjetivação’ das chanchadas, tanto num primeiro momento, quando eram vistas negativamente, como a partir da mudança no regime de valor que as governa.

    Tenta-se desenhar um ‘mapa-limite’ do conceito de Chanchada — a partir dos direcionamentos da bibliografia, no sentido de obter não uma fórmula conceitual do gênero, mas de construir uma cartografia dentro da qual se deram as disputas em torno deste conceito. Mapear os discursos sobre a Chanchada, tendo como norte o ‘juízo de valor’ sobre as obras desta natureza, a partir dos elementos ativados nesta valoração, nos permite desenhar os limites das definições possíveis acerca do gênero, ao mesmo tempo em que desenvolve esta ‘genealogia bélico-dirscursiva’ em torno destas definições; o balizamento por meio das avaliações/qualificações deste universo de filmes — que encontra dois grandes blocos hermenêuticos de polarizações opostas, sendo o primeiro aquele que considera as chanchadas como ‘negativo’ e o segundo que a avalia ‘positivamente’ — deixa observar o gênero como ponto de tensão, desde sua ampla desvalorização (entre críticos e teóricos, é necessário frisar; o seu sucesso popular sempre se fez ver nos expressivos números de bilheteria), até um movimento posterior de revisão e reavaliação das chanchadas.

    Duas hipóteses se mostraram válidas e passíveis de verificação em nossa análise: a primeira delas preconiza que, desde o nascimento do gênero até aquilo a que chamamos acima de ‘virada interpretativa’, imperava sobre estes discursos um regime epistemológico de viés Sociológico-modernista, centrado na figura de Glauber Rocha e reverente a um ‘norte’ estético, político e ético de matizes cinemanovistas — e que analisava os filmes e julgava o valor destes segundo estas diretrizes, fazendo coro, ao mesmo tempo, a um sistema de avaliação artístico frankfurtiano e a uma concepção negativa do cômico-popular. A segunda, realizando o mesmo procedimento da primeira, considera que a compreensão contemporânea da Chanchada se pauta na esteira de uma mudança mais ampla pela qual passou a análise do produto cultural em todo o mundo, a partir da ascensão dos Estudos Culturais.

    É, de fato, um estudo ‘arqueológico’ o que se propõe aqui, uma vez que se pretende revolver os sedimentos acumulados pelos discursos sobre o gênero e submetê-los a um escrutínio mais severo. O título, A Chanchada em Paralaxe, tenta sintetizar, através do conceito de paralaxe – tomado de empréstimo das ciências astronômicas por Slavoj Žižek (2008) e que diz respeito a um fenômeno no qual uma mudança epistemológica no ponto-de-vista do sujeito refletiria uma mudança ontológica no objeto −, a questão maior desta proposta de pesquisa: o que está em jogo quando um determinado objeto, a partir de diferentes interpretações, faz emergir juízos opostos? Como as chanchadas se deslocaram de um lado para o outro do espectro valorativo?

Bibliografia

    BERNADET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. São Paulo: Companhia das letras, 2009.

    CANOSA, Fabiano. Cinema brasileiro: ontem, hoje e amanhã. Revista Cultura. Ano 6, n.24, jan/mar 1977, p.8-21.

    CATANI, Afrânio Mendes. A chanchada no cinema brasileiro. Brasiliense, 1983.

    DE LUNA FREIRE, Rafael. Descascando o abacaxi carnavalesco da chanchada: a invenção de um gênero cinematográfico nacional. Revista Contracampo, n. 23, p. 66-85, 2011.

    PEREIRA, Ladenilson José. Cinema no ensino de história: as chanchadas e os anos 1950. Cadernos de Pós-Graduação, v. 5, n. 1, p. 207-218, 2009.

    ROCHA, Glauber. Revolução do cinema novo. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.

    ______________ Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

    SHAW, Lisa. A imitação cultural na chanchada: o caso de Quem roubou meu samba? e Rio, Zona Norte. Revista Alceu, v. 8, n. 15, p. 69-81, 2007.