Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabrício Basílio Pacheco da Silva (PPGCOM/UFF)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF). Criador do Cineclube Rã Vermelha, dedicado ao cinema de horror nacional. Tem interesse nos seguintes temas: cinema fantástico, insólito ficcional, cinema nacional e gêneros cinematográficos.

Ficha do Trabalho

Título

    A construção do insólito ficcional em Trabalhar Cansa

Resumo

    O presente trabalho parte do filme brasileiro Trabalhar Cansa (2011) e objetiva investigar os aspectos insólitos empregados no filme. Para isso, ambiciona-se conectar estudos literários e cinematográficos, partindo da teoria de terror incidental proposta Laura Cánepa, da evidenciação de códigos do horror e da proposta temática social da obra, que se somaram aos estudos de Tzvetan Todorov e David Roas acerca do fantástico.

Resumo expandido

    O trabalho pretende situar-se em torno dos debates acerca do cinema brasileiro contemporâneo, no que tange a discussão de filmes que dedicam suas narrativas a elementos do insólito ficcional, conceito empregado aqui como uma categoria comum a vários gêneros de origem literária, conectados por uma herança em torno do sobrenatural. Como aponta Flávio García (2012) o insólito ficcional se revela como uma forma de nomear um macro-gênero, associado a uma “arquitetura sistêmica” que se opõe ao sistema “real-naturalista”.
    Para isso, o trabalho firma como objetivo a investigação dos elementos insólitos, tanto narrativos quanto estéticos, desenvolvidos no filme Trabalhar Cansa (2011), dirigido por Marco Dutra e Juliana Rojas, que hibridiza elementos do gênero cinematográfico do horror, com uma mise-en-scène essencialmente naturalista e uma narrativa voltada para a discussão de problemas sociais.
    Nesse sentido, Laura Cánepa (2013-14) aponta um fenômeno recente que surge em filmes voltados para outros gêneros, mas que apresentam “experiências limítrofes” com a linguagem cinematográfica do horror. Ampliando esse argumento a pesquisadora apresenta em seu artigo Terror incidental? (2013) uma teoria incompleta que abarca Trabalhar Cansa. Para Cánepa, por mais que alguns filmes contenham poucas sequências de violência explícita, existe uma identificação permanente entre espectador e personagem de que “algo terrível” possa ocorrer a qualquer momento, o que se configura como um ponto de intersecção com o horror. Para a autora esse “algo terrível” não é criado por elementos psicóticos ou sobrenaturais, mais sim por mazelas sociais brasileiras não resolvidas.
    Complementando esse argumento, Mariana Souto (2012) aponta que as maiores tensões em Trabalhar Cansa não se instauram na erupção dos elementos sobrenaturais, mas sim nas relações entre “empregador e empregado”, ou seja, na evidenciação da luta de classes.
    Diante desses aspectos o trabalho se volta para bibliografias oriundas da literatura. Neste processo dois teóricos se destacam. Em primeiro lugar nos colocamos ao lado dos estudos estruturalistas de Tzvetan Todorov sobre o fantástico. Para o autor, o fantástico pode ser definido como uma perturbação sobrenatural em um mundo natural/real. Assim, a inserção de um elemento fantástico precisa ter um mínimo de sustentabilidade real, capaz de deixar leitor e personagem em dúvida quanto ao acontecimento. Ou seja, o fantástico ocupa o tempo dessa incerteza e, dessa forma, depende da hesitação para sua existência. Assim que se define uma resposta deixa-se o terreno do fantástico para entrar em dois gêneros vizinhos: o estranho e o maravilhoso. No estranho a resolução da história revela que o acontecimento insólito possui explicação racional, ou seja, o “sobrenatural é reduzido a feitos conhecidos”, enquanto que no maravilhoso se faz necessário admitir novas leis da natureza, como ocorre nas fábulas infantis.
    Também lançamos mão de David Roas (2014), que interpreta o fantástico como a transgressão conflituosa da realidade. Essencial para este trabalho é a distinção que Roas faz em torno de dois tipos de medo emitidos pela narrativa insólita: o medo físico e emocional, e o medo metafisico ou intelectual. O medo físico e emocional está ligado a perturbação da integridade física, este tipo de medo é compartilhado em prevalência nas narrativas fantásticas e nos filmes de horror, associado ao nível das ações narrativas e transmitido aos personagens e ao leitor. Ao contrário disso, o medo metafísico ou intelectual, abole as noções de real, mas não para aterrorizar a integridade física dos personagens, mas sim para revelar a estes que a regras do mundo não funcionam do modo como se pensava, é a essa forma de medo a que filiamos Trabalhar Cansa.
    Buscando imbricar teorias cinematográficas e literárias, almeja-se evidenciar como a obra em questão, subverte elementos tradicionais do horror e do insólito em prol de uma singularidade narrativa.

Bibliografia

    CÁNEPA, Laura. Horrores do Brasil. Filmecultura 61, novembro 2013 – janeiro 2014, p. 33-37
    CANEPA, Laura. Terror Incidental? Revista Interlúdio, 2013. Disponível em: http://www.revistainterludio.com.br/?p=5160 . Acessado em: 15/ 05/ 2016
    GARCÍA, Flávio. Quando a manifestação do insólito importa para a crítica literária. In: Vertentes teóricas e ficcionais do Insólito. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2012.
    SOUTO, MARIANA. O que teme a classe média? Trabalhar cansa e o horror no cinema brasileiro contemporâneo. Contracampo, Niterói (RJ), no25, dez/2012.
    Disponível em: http://www.uff.br/contracampo/index.php/revista/article/view/293 Acessado em: 15/ 05/ 2016
    ROAS, David, A Ameaça do fantástico. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
    TODOROV, Tzvetan, Introdução à Literatura Fantástica, São Paulo: Perspectiva, 2008.