Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Sabrina Tozatti Greve (USP)

Minicurrículo

    Sabrina Tozatti Greve é atriz, cineasta, e mestranda na ECA/USP no programa de Pós-Graduação em Processos e Meios Audiovisuais, linha de pesquisa: História, Teoria e Crítica. Bolsista Fapesp. E-mail: sabrinagreve@usp.br

Ficha do Trabalho

Título

    As teorias de Pudovkin sobre o trabalho do ator no cinema

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    Essa apresentação pretende resgatar algumas reflexões do cineasta V. Pudovkin em relação ao trabalho e a função do ator no cinema. Partindo da apropriação de elementos da pesquisa desenvolvida no teatro por K. Stanislavski, Pudovkin cria um método próprio em prol de um estilo de interpretação mais verdadeiro e na defesa do ator consciente do processo cinematográfico.

Resumo expandido

    Em tempos de um certo modismo no cinema brasileiro em relação ao trabalho dos preparadores de elenco, faz-se necessário o resgate de outras abordagens sobre a interpretação cinematográfica. Para além do conhecido método de trabalho pesquisado pelo Actors Studio (o mais conhecido e aplicado no Brasil), focado sobretudo na técnica da memória emotiva desenvolvida por Lee Strasberg, existem outras visões de trabalho que merecem ser contempladas. É o caso das teorias de V. Pudovkin, o primeiro cineasta russo que se apropria das ideias do mestre teatral K. Stanislavski, este também base de criação para o método do Actors Studio. Se o trabalho de alguns preparadores de elenco no Brasil prima por uma certa inconsciência do ator sobre o dispositivo cinematográfico, muitas vezes até omitindo o contato do ator com o roteiro a ser filmado; Pudovkin vai na direção oposta encorajando a participação do ator em todas as etapas da realização de um filme.
    Pudovkin acreditava que, assim como no teatro o ator deveria aprender técnicas específicas de expressão para o palco – como, por exemplo, a projeção vocal e a ampliação dos gestos –, no cinema, o ator deveria aprender as técnicas específicas relativas ao fazer cinematográfico. Tanto que ele chegou a criar o termo “cinematografização” (em oposição a “teatralização”), na tentativa de diferenciar e descobrir um novo paradigma de interpretação para os atores no cinema.
    Segundo Ismail Xavier, “há no mundo cinematográfico de Pudovkin lugar para a ‘psicologia’, assim como há lugar para uma concepção mais flexível do trabalho do ator, que inclui uma adaptação de Stanislavski para o cinema” (2005, p. 53). Para Pudovkin, apesar de Stanislavski não se preocupar diretamente com a interpretação cinematográfica, sua pesquisa no âmbito teatral levantou uma série de questões que o cinema poderia ajudá-lo a resolver. As sutilezas almejadas por Stanislavski na interpretação seriam impossíveis de serem plenamente conquistadas no teatro, principalmente por conta das dimensões do palco e o distanciamento entre palco e plateia, e portanto, cabia ao cinema desbravar esse novo estilo de interpretação mais próximo da “vida real”.
    Tais inquietações surgem sobretudo durante as filmagens de seu primeiro longa metragem (A mãe, 1926), onde Pudovkin começa a experimentar alguns métodos de trabalho para, em um primeiro momento, apenas subtrair os gestos farsescos e teatrais de seus atores. A partir do bom resultado com esses experimentos, Pudovkin aprofunda sua pesquisa em relação ao sistema de Stanislavski e documenta suas teorias no livro Film Acting (1930), provavelmente a primeira publicação no mundo voltada exclusivamente à interpretação do ator para o cinema.
    Dentre as ideias contidas em seus escritos constam: a recusa do uso de não-atores em papéis principais nos filmes, a aplicação do método de ações físicas proposto por Stanislavski, a interiorização dos sentimentos dos atores durante a sua expressão, a necessidade de um período de ensaios com os atores antes das filmagens propriamente ditas e, principalmente, a presença do ator durante todas as etapas da realização de um filme. Para ele, o ator no cinema não poderia ser apenas uma marionete conduzida pelo diretor, sua interpretação deveria estar intimamente ligada à construção do filme como um todo. Ele defendia ferozmente a participação do ator no processo de criação do argumento, da decupagem e, sobretudo, da montagem. Segundo ele, a conclusão da interpretação do ator no filme também estaria atrelada à escolhas dos planos do mesmo.
    As ideias de Pudovkin são de um respeito ímpar em relação a função do ator no cinema, e as primeiras que o elevam também ao status de co-criador da obra cinematográfica. Uma visão que, além de contrapor seus pares na época, merecia ser revisitada no cinema da atualidade.

Bibliografia

    PUDOVKIN, Vsevolod. O Ator no Cinema. Rio de Janeiro: Casa do Estudante, 1956
    PUDOVKIN, Vsevolod. Diretor e Ator no Cinema. Rio de Janeiro: Editora Iris, n/d
    PUDOVKIN,V. Stanislavsky’s System in the Cinema, O artigo foi publicado originalmente no jornal Iskusstvo Kino em 1951 e traduzido em 1952 por T. Shebunina para a revista britânica Sight & Sound, publicada pela British Film Institute (BFI). Disponível em: http://www.unz.org/Pub/AngloSovietJ-1952q3-00034
    STANISLAVSKI, Konstantin. Minha vida na arte. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
    XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico; a opacidade e a transparência. 3a edição.São Paulo: Paz e Terra, 2005.