Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    PAULO ROBERTO MUNHOZ (UTP)

Minicurrículo

    Paulo Munhoz é cineasta e professor. Entre suas obras se destacam os longas-metragens em animação BRICHOS – A FLORESTA É NOSSA (2012), BELOWARS (2007) e BRICHOS (2006), e os curtas O POETA (2001) e PAX (2006) (www.tecnokena.com.br). Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da UTP – com apoio da Taxa Capes Prosup; Mestre em Tecnologia pelo PPGTE – UTFPR (2002); Especialista em Ciências da Computação pela PUCPR (1995); Engenheiro Mecânico pela – UFPR (1989).

Ficha do Trabalho

Título

    A Arte da Tecnologia no filme Gravidade, de Alfonso Cuarón

Resumo

    Este estudo busca verificar em que medida a tecnologia pode ser considerada como elemento artístico principal num filme de longa-metragem. Tomamos como corpus de análise o filme Gravidade, do diretor Alfonso Cuarón, e o estudamos no sentido de compreender o que poderia ser tratado como fundamental ou acessório na sua realização estética. Outro mister desse trabalho é contribuir na visão da tecnologia como elemento fundante do humano, em consonância com o pensamento do professor Álvaro Pinto.

Resumo expandido

    Alinhados que estamos ao pensamento do professor Álvaro Vieira Pinto, entre outros autores, entendemos o Ser Humano como ser de linguagem e de tecnologia. Ou seja, desde o primeiro uso de instrumentos como pedras, ossos e galhos, usados para matar, construir, plantar, desenhar ou escrever, homens e mulheres se fazem seres humanos pela extensão de suas possibilidades motoras, pela ampliação de sua potência mecânica, pelo aumento de sua velocidade, pela ampliação de suas condições de conforto e proteção, pela ampliação de seus poderes de visão e audição, bem como de representação e expressão. Vistos como seres de linguagem, dominam seus corpos e fazem uso da voz e das palavras para compreensão coletiva do mundo à sua volta, alterando inclusive sua forma de pensar. Nessa perspectiva, o cinema se apresenta como um locus privilegiado de maximização do Humano, como um espelho ou lente a refleti-lo, ampliá-lo e sondá-lo, pois é arte de linguagem e de tecnologia.
    Desde os primeiros experimentos de animação de imagens, da produção de ilusões catóptricas e dióptricas, do espetáculo da Lanterna Mágica, do Cinetoscópio de Edison e Dickson, do Cinematógrafo dos Irmãos Lumière até os dias de hoje, o desenvolvimento das tecnologias fizeram o cinema avançar numa busca contínua da melhor qualidade da imagem e do som, do melhor espetáculo sensorial para o público, no intuito de fornecer o melhor ferramental para os cineastas. Tais desenvolvimentos impactaram as linguagens e estéticas, num diálogo ora conflituoso (o surgimento da banda sonora, por exemplo) ora harmonioso, mas sempre profícuo em termos de resultados. No entanto, assuntos que tratam da relação entre técnica e estética parecem mais raros nos debates da teoria e da crítica que, tradicionalmente, centram-se mais nas questões de ordem temática, política ou narrativa dos filmes. Nesta lacuna é que se encaixa a nossa contribuição, daí a justificativa deste trabalho.
    Objetiva-se verificar em que medida a tecnologia deixa de ser meio e suporte para se constituir no espetáculo cinematográfico em si. Nosso corpus de análise é o filme Gravidade, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, de 2013.
    Nossa hipótese é de que, na busca do máximo realismo, Alfonso Cuarón e sua equipe desenvolveram um trabalho em que a grande personagem do filme não é a Dra. Ryan, interpretada pela atriz Sandra Bullock, mas o conjunto de soluções tecnológicas que fazem o público imergir no espaço, numa experiência de grande realismo que ilude as pessoas a ponto de acharem que o filme foi filmado no espaço extraterrestre. Nosso argumento é que nesse filme tecnologia é a protagonista, considerando que sua performance é essencial para o desenvolvimento da trama. Esse argumento pode ser corroborado pela análise da mise-en-scène que coloca em evidência a total liberdade da câmera, em contínuo movimento, numa circunstância impossível de ser realizada sem o casamento da computação gráfica, da robótica e de uma interpretação preparada especialmente para a aplicação da figura humana em cenários virtuais e avatares digitais.
    Por outro lado, vemos em Gravidade um reflexo de O Homem Com Uma Câmera (1929), de Dziga Vertov. Ou seja, um filme que, abraçando amorosamente a máquina, nos torna mais humanos.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Edições Texto e Grafia, Lisboa, 2006.
    BAZIN, André. O que é o cinema? São Paulo: Cosac Naify, 2014. 416 p.
    BENNET, Bruce. FURSTERNAU, Marc. MACKENZIE, Adrian. Et alii. Cinema and Technology: cultures, theories, practices. Palgrave Macmillan, 2008.
    GRAVIDADE. Diretor Alfonso Cuarón. BLU-RAY, 3D, Warner Bros. 2013.
    MACHADO, Arlindo. Pré-cinema & pós-cinemas. Campinas, SP: Papirus, 1997. 303p.
    MANNONI, Laurent. A Grande Arte da Luz e da Sombra. São Paulo, Editora SENAC São Paulo : UNESP, 2003. 514 p.
    MANOVICH, Lev. The language of new media. Cambridge: Mit Press, 2001.
    PAGLIA, Camille. Imagens cintilantes: uma viagem através da arte desde o Egito a Star Wars. Rio de Janeiro: Apicuri, 2014. 224 p.
    PINTO, Álvaro Vieira. O conceito de tecnologia. Contraponto: Rio de Janeiro, 2013.
    UM HOMEM COM UMA CÂMERA. Direção de Dziga Vertov. Produzido por VUFKU (1929). Versão em
    SÍTIO DA EMPRESA FRAMESTORE. http://www.framestore.com/work/gravity