Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Eliska Altmann (UFRRJ)

Minicurrículo

    Professora adjunta da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no Departamento de Ciências Sociais e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS). Coordenadora do Núcleo de Experimentações em Etnografia e Imagem (NEXTimagem) – PPGSA/IFCS/UFRJ. Diretora, com Marco Antonio Gonçalves, do documentário “Das nuvens pra baixo” (2015). Idealizadora do portal eletrônico CineCríticos, dedicado à crítica de cinema na América Latina: www.cinecríticos.com.br

Ficha do Trabalho

Título

    O Rio Capital imaginado pela crítica cinematográfica

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    O trabalho trata de verificar como o Rio de Janeiro, “cidade-capital”, foi imaginado por críticos cinematográficos brasileiros. Por meio de críticas aos filmes “Rio fantasia” (1957), de Watson Macedo, e “Rio, 40 graus” (1955), de Nelson Pereira dos Santos, pretendemos entender como a então Capital Federal foi descrita e legitimada por agentes que formam julgamentos, quiçá, para a posteridade. Vale notar que os documentos pesquisados referem-se a duas representações antitéticas de urbanidade.

Resumo expandido

    Se fizéssemos uma cartografia de iconografias do Rio de Janeiro do século XIX, encontraríamos, junto à urbanidade crescente, paisagens de montanhas, ilhas, baía, litoral, florestas. Tais caminhos, a conformarem cenas sociais e aspectos naturais, viriam figurar certa identidade de “cidade maravilhosa” e utópica, representação do Brasil e símbolo da civilização. Visão geralmente harmônica e idílica foi traduzida em tintas por “imaginadores” (desbravadores e viajantes europeus), como Félix Émile Taunay e Debret. Nas telas daquele século constata-se “uma visão bucólica, romântica, em que a natureza e o construído convivem numa atmosfera serena e luminosa”.

    Enquanto “o registro [pictórico] sistemático da paisagem do Rio de Janeiro teve início a partir da abertura dos portos às nações amigas, em 1808”, o cinematográfico viria ocorrer nove décadas depois. Contudo, contrariamente aos quadros e aquarelas, “infelizmente as centenas de filmes aqui realizados de 1898 a 1930 perderam-se quase todos”. Além da conservação do material, outra diferença que pode ser verificada em comparação entre os dois tipos de registro é um desencaixe em relação ao que querem mostrar, já que o cinema da primeira metade do século XX tratou de apresentar atributos distanciados daquela atmosfera “serena e luminosa”.

    Diversamente às belas artes, nos primeiros filmes rodados no Rio de Janeiro “nenhum cineasta ou cinegrafista carioca parece ter se preocupado em destacar ícones da beleza da cidade. Nas listagens de filmes que chegaram até nós nada parece indicar a presença deste tipo de approach, ou seja, a cidade não é ainda apreciável, objeto definido e definível através de imagens enquadradas com intenções conscientes”. Signos urbanos, como a Avenida Central, foram temas de filmes e documentários das primeiras décadas do novo século, e signos paisagísticos, como o Pão de Açúcar, se tornaram cenário cinematográfico mais precisamente na década de 1920, que passou a englobar, aí sim, certo projeto estético “turístico”, de “embelezamento cinematográfico”.
    A partir dos anos 1920, “até meados dos 40”, o cinema carioca “apresenta uma espécie de sagração da cidade”. E nas décadas subsequentes, “o tratamento da paisagem carioca seguirá duas grandes linhas. Uma se dedicará a apresentar a cidade de forma harmoniosa, recorrendo aos ícones como confirmação. A outra linha procurará justamente o confronto entre esse Rio cartão-postal e sua vivência cotidiana”.

    Na tentativa de entender como a Capital Federal foi imaginada pelo campo da crítica, notamos que ambas as produções, de 1955 e 1957, foram realizadas e lançadas no processo de empossamento do presidente Juscelino Kubitschek. Tal contexto envolve diretamente o Rio que, como capital, tinha função de “representar a unidade e a síntese da nação”, e “papel como locus da identidade nacional” ou “vitrine do país”. Com base neste panorama, que tem uma importância peculiar “conferida aos símbolos, signos, práticas e valores”, buscamos mapear a recepção dos dois filmes que parecem parafrasear duas dimensões sociais (e ideológicas) acentuadas nos anos 1960: de um lado, o progresso e o desenvolvimentismo, e, do outro, sua inviabilidade, denunciada pelo subdesenvolvimento e sua necessidade de superação.

    O resultado deste contraste seria a construção da figura do carioca, esse tipo cujas relações sociais e culturais acontecem na “cidade maravilhosa”. Contornos paisagísticos, Cristo Redentor e praias da Zona Sul passam a espelhar um sentido de “ufanismo carioca” contrastado com produções que encenam camadas populares, subúrbio, favelização e os morros. É justamente deste contraste que nasce nossa investigação, que consiste na análise de críticas ao filme “Rio fantasia”, representante da chanchada, a exaltar alegrias e belezas da capital, e ao “divisor de águas”, “Rio, 40 graus”.

Bibliografia

    AZEVEDO, A. N. de. “A capitalidade do Rio de Janeiro. Um exercício de reflexão histórica”. In: _____ (Org.) Rio de Janeiro: Capital e Capitalidade. Rio de Janeiro: Departamento Cultural/ Sr-3 UERJ, 2002.
    DIAS, R. de O. “O olhar da chanchada sobre a cidade do Rio de Janeiro”. Contemporâneos. Revista de Artes e Humanidades, n. 6, pp. 1-17, maio-outubro 2010.
    HEFFNER, H. “Paisagem carioca no cinema brasileiro”. In: Imaginários cariocas: a representação do Rio no cinema. Caixa Cultural: Rio de Janeiro, 2015. p. 11-19.
    RAMOS, A. F. “Historiografia do cinema brasileiro diante das Fronteiras entre o trágico e o cômico: redescobrindo a ‘chanchada’”. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, vol. 2, ano II, n. 4, p. 1-15, out.-dez. 2005.