Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Baltar (UFF)

Minicurrículo

    Mariana Baltar é professora departamento de Cinema e Vídeo e do PPGCOM/UFF. Pesquisadora do Cnpq (bolsa de produtividade Pq2), é coordenadora do Nex – Núcleo de Estudos do Excesso nas Narrativas Audiovisuais. Publicou diversos artigos entre eles Evidência invisível – Blow Job, vanguarda, documentário e pornografia, na Revista Famecos (2011), e o capítulo Weeping Reality, no livro Latin American Melodrama. Passion, Pathos, and Entertainment (2009).

Ficha do Trabalho

Título

    Atrações dos Corpos e a reapropriação dos gêneros

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    A proposta desta comunicação é pensar os corpos em cena a partir do diálogo entre o regime de atrações e as matrizes de gêneros narrativos. Focaremos a análise na produção de curta metragem contemporâneo que insere referências aos gêneros do corpo e também à lógica das atrações como forma central de apresentação das personagens, incluindo inserts de dança e/ou performances musicais e estabelecendo um diálogo direto com o espectador que se sustenta no engajamento afetivo.

Resumo expandido

    A proposta é pensar os corpos em cena a partir do diálogo entre o regime de atrações e as matrizes de gêneros narrativos. Focaremos a análise na produção de certo cinema contemporâneo de curta metragem que insere referências aos gêneros do corpo e também à lógica das atrações como forma central de apresentação das personagens.
    Partindo da reflexão em torno das permanências e implicações do regime de atrações no cinema e audiovisual contemporâneo, esta comunicação pressupõe uma correlação entre os conceitos de cinema de atrações e afeto. O objetivo é traçar a importância de determinada teorização sobre o afeto para refletir sobre os desdobramentos do conceito de atrações e suas possibilidade para pensar um cinema ao mesmo tempo narrativo e “disruptivo” capaz de colocar em cena um certo sentido de política que se presentifica de modo ambivalente a partir das performances do e no corpo.
    A concepção de Atrações tem me interessado como uma peça chave para refletir sobre as estratégias de mobilizar a atenção do espectador através de um jogo que se processa entre corpos: o corpo nas telas, o corpo da câmera e o corpo do espectador. Esse conceito foi inicialmente cunhado por Tom Gunning e André Gaudreault para o Primeiro Cinema, mas depois será desenvolvido por Gunning para além das restrições desse marco histórico.
    Esta comunicação segue o caminho teórico traçado em outros artigos, quando busco refletir sobre as implicações de um regime audiovisual calcado no engajamento afetivo através das mobilizações de um “convite às sensações” feito a partir das correlações entre o sistema narrativo dos gêneros e os inserts de passagens afetivo-performativas que recuperam às lógicas do regime de atrações. Acredito que tais convites acabam por operar um deslocamento ao colocar em cena dimensões políticas (em especial as vinculadas às questões de gênero e sexualidades) que se expressão no corpo entendido em sua força expressiva.
    Minha hipótese é que se percebe com isso um forma de organização da cena que se centra nas performances, nos gestos e nas referências simbólicas que se sustentam nos movimentos expressivos do corpo; dessa forma, diminuindo a força do diálogo e do drama propriamente dito. Nesse sentido, a despeito de serem filmes explicitamente narrativos, operam também por um regime de atrações que reitera a força expressiva (mais que a representacional) como modo tensionamento político ao estabelecer um compartilhamento afetivo e sensorial entre os corpos nas telas e os corpos dos espectadores.
    Recupero aqui então o conceito de Atrações para dar conta dessa faculdade do cinema de encenar e mobilizar corpos com corpos, o que Richard Dyer (1985) entendeu como “re-educação dos desejos” que se dá através da “produção de um saber corporal do corpo”. Esta visão é corroborada por Linda Williams (2004) ao pensar a pornografia – entre outros gêneros, como o melodrama e o horror, e o musical, eu acrescentaria – como uma tensão entre o fio do enredo narrativo e as atrações, tensão esta que requalifica nosso olhar para ambas as esferas. Essa “requalificação” abre caminho para o questionamento (político) da própria narrativa. Assim as Atrações respondem por uma força perturbadora da organização do fio narrativo que se aproxima do modo como Elena Del Rio (2008) pensa o conceito de afeto.
    Nas análises, partirei das reflexões colocadas em Gunning, Scott Bukatman (2006), Elena Del Rio (2008), Linda Williams (2004), entre outros, para pensar a permanência e potencialidade política de uma lógica de atrações no cinema contemporâneo a partir da análise dos filmes vinculados ao coletivo carioca [ritornelo]: Eu queria ser arrebatada, amordaçada e, nas minhas costas, tatuada (Andy Malafaia) e Ensaio sobre minha mãe (Jocimar Dias Jr)

Bibliografia

    BALTAR, M. Tessituras do excesso. In. Revista Significação, ano 39, nº38, 2012.
    BUKATMAN, S. Spectacle, attractions and visual pleasure. In. STRAUVEN, Wanda (org). Cinema of attractions reloaded. Amsterdam University Press, 2006.
    DEL RÍO, E. Deleuze and the cinemas of performance. Powers of affection. Edinburg University Press, 2008.
    GUNNING, T. The cinema of attractions: early film, its spectator and the avant-garde. In. STRAUVEN, W. (Org.). Cinema of attractions reloaded. Amsterdam University Press, 2006.
    PAASONEN, S. Carnal Resonace. Affect and online pornography. The MIT Press, 2011
    DYER, R . Male Gay Porn Coming to Terms. In. Jump Cut, número 30, 1985
    WILLIAMS, L. Hard Core – Power, Pleasure and the “Frenzy of the Visible.” Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1989.
    _____________. Film Bodies: gender, genre and excess. In. BRAUDY, Leo e COHEN, Marshall (eds). Film Theory and criticism. NY/Oxford, Oxford University Press, 2004