Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Russo Estevão (UFSCar)

Minicurrículo

    Graduado em Rádio e TV (UNESP/2000). Mestrado em Imagem e Som (UFSCar/2016). Diretor do estúdio Usinanimada (2001), no qual desenvolve programas de TV, vídeos educativos e publicitários. Professor no curso de Audiovisual da Organização Barão de Mauá, professor no curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Estácio-UNISEB e professor no curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Paulista, atuando principalmente nos seguintes temas: produção audiovisual e comunicação.

Ficha do Trabalho

Título

    Exit Through the Gift Shop: o documentário-spray

Resumo

    A proposta discute alguns mecanismos de criação e produção do artista britânico Banksy, principal expoente do movimento que ficou conhecido como arte de rua no início dos anos 2000. Parte-se do filme Exit Through the Gift Shop (2010), para discutir as relações entre o artista de rua e o documentarista Banksy. Através da observação do filme nota-se espelhamentos com os processos encetados pelo artista: apropriação e subversão de textos culturais, parodização, crítica social. Propõe-se o início de uma análise do filme, embasada principalmente nas ideias de Roger Odin, Bill Nichols; e a relação entre arte e filme a partir das propostas de Tradução Intersemiótica, formuladas por Julio Plaza.
    Palavras-chave: Teorias do Documentário, Arte de rua, Banksy, Exit Through the Gift Shop, Tradução Intersemiótica.

Resumo expandido

    Em 2010, Banksy, um renomado artista do movimento conhecido como street art (ou arte urbana), lançou o documentário Exit Through The Gift Shop (Saída Pela Loja de Presentes) no qual narra a trajetória de Thierry Guetta, o homem-câmera que acompanhou (e registrou) a explosão do movimento de arte urbana a partir dos anos 2000, com o objetivo de realizar um documentário sobre o próprio Banksy.
    Desde o início do filme nota-se as relações de duplicidade e reflexibilidade entre personagem e documentarista. Banksy se apropria de um personagem para falar de si mesmo e expor sua versão sobre a arte urbana.
    O presente trabalho propõe uma discussão sobre os imbrincamentos entre o fazer artístico e a obra do artista Banksy – marcada pela apropriação de textos culturais e subversão dos mesmos; e o modus operandi do Banksy documentarista.
    Bill Nichols é um importante teórico que pesquisou e relacionou as diferenças discursivas de obras documentais e tentou identificar “modos” de estruturação de obras deste gênero. A discussão sobre as características da obra documental remontam aos primórdios do cinema e às considerações sobre os limites entre realidade e ficção quando retratadas através de um aparato tecnológico. O próprio Nichols salienta que a identificação de um filme com um certo modo não precisa ser total, as características de um dado modo funcionam como dominantes num dado filme mas não ditam ou determinam todos os aspectos de sua organização. Mesmo aceitando a heterogeneidade de propostas do “fazer documental”, Nichols insiste que é possível considerar esses filmes parte de um corpus, que compõem o gênero documentário.
    Roger Odin, partindo de uma visão contrária a de Bill Nichols, afirma a incoerência de se considerar os filmes documentários como um gênero estanque, principalmente devido às diferenças entre as obras e os imbricamentos entre filmes de ficção e documentários. Para Odin a classificação do filme se dá no momento da recepção e em uma mesma obra pode-se notar aspectos ficcionais e documentarizantes.
    Através do embate entre essas duas ideias iniciais e imbuído do conceito de filme-ensaio, de um cinema que faz pensar, propõe-se o olhar para Exit Through the Gift Shop como um documentário-spray, uma obra composta na chave do imbricamento, da dúvida, e que representa os mecanismos da obra plástica do artista de rua Banksy.
    Com base nas teorias de tradução intersemiótica estudadas por Julio Plaza, organiza-se a análise em quatro aspectos: 1) a predominância do signo icônico em sua obra; 2) a relação entre videografia e arte de rua; 3) o fascínio de Banksy por duplos; e 4) a construção paródica de sua obra.
    A equivalência sígnica presente nas obras de Banksy tem relação direta com as características estruturais do filme dirigido pelo artista.
    Banksy é um artista que se apropria de textos culturais caros à cultura ocidental, desde representações tradicionais do universo artístico (vide a Mona Lisa) até personagens de filmes (Pulp Fiction). As apropriações são realizadas pelo viés da transgressão, da subversão dos valores intrínsecos à estes textos. Percebe-se o mesmo movimento de apropriação e subversão na narrativa estruturada por Banksy no documentário Exit Through the Gift Shop. O posicionamento do artista como ‘narrador invisível’ e ao mesmo tempo personagem é uma das chaves para a compreensão de um discurso crítico sobre a história da arte e a crise dos valores que envolvem o fazer artístico na contemporaneidade.

Bibliografia

    EXIT through the gift shop. Direção: Banksy. Reino Unido, 2010, 87 min., 35 mm., son., color.

    BANKSY. Guerra e Spray. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2012.

    BURCH, Noel. Práxis do cinema. São Paulo: Perspectiva, 2011.

    CORRIGAN, Timothy. O filme-ensaio. Desde Montaigne a depois de Marker. São Paulo: Papirus Editora, 2015.

    ELLSWORTH – JONES, Will. Banksy: por trás das paredes. Curitiba: Editora Nossa Cultura, 2013.

    KLUBA, William. Where Does Art Come From?: How to Find Inspiration and Ideas. New York: Skyhorse Publishing, 2013.

    MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac & Naify, 2013.

    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005.

    ODIN, Roger. Filme documentário, leitura documentarizante. Significação, nº 37, 2012, p. 10-30.

    PAIVA, Samuel. Gêneses do gênero road movie. Significação (USP). São Paulo, n. 36, 2011, p. 36-53.

    PLAZA, Julio. Tradução Inersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2013.