Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Andrade Caribé (UNB)

Minicurrículo

    Jornalista graduado na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2007. Passagem por veículos de imprensa corporativos e independente. Mestre em políticas de comunicação e cultura pela Universidade de Brasília (UNB) com o título “Lei da Tv Paga: os mediadores na constituição de uma rede audiovisual” (2015). Doutorando no mesmo curso, com a tese em andamento sobre os modelos de produção do audiovisual negro contemporâneo. Coordena a rede de mídia libre Bahia1798 (www.bahia1798.org)

Ficha do Trabalho

Título

    O RECONHECIMENTO NO CINEMA NEGRO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL

Resumo

    A apresentação traz síntese do cinema negro contemporâneo no Brasil enquanto gênero constituído com os movimentos negros e integrado ao modelo diaspórico e ambivalente da cultura negra. Suas estratégias de reconhecimento são lastreadas no controle sobre os processos de linguagem e produção. Os marcos que vão ilustrar as obras e organização da produção são o Dogma Feijoada, Manifesto do Recife, o movimento cinema negro no feminino e os Encontros de Cinema Brasil, África e Caribe.

Resumo expandido

    O projeto de cinema negro no Brasil é acompanhado por uma comunidade intelectual na qual a produção acadêmica está inserida, mas não detém controle sobre o conhecimento. Edileuza Penha de Souza (2013) categoriza o cinema negro enquanto gênero constituído de forma relacional com os movimentos negros a fim de fundamentar o caráter político e coletivo das produções e formulações. Tal comunidade integra uma cultura negra diaspórica e ambivalente com a modernidade (GILROY, 2013), suas conexões são transnacionais, por meio de rotas traçadas a partir do processo de colonização e escravidão de povos africanos e seus descendentes; e a singularidade artística expressa a sublimação da experiência de terror por meio de refutações e incorporações com a razão iluminista.
    O cinema negro se relaciona com a perspectiva de reconhecimento de Fanon (2008) que perpassa controle nos meios de produção simbólicos. O domínio da linguagem é processo primordial para obtenção de liberdade. Tal dimensão é estimulada pelos recorrentes estereótipos e ocultações na representação, presente nos estudos de Robert Stam, Joel Zito Araújo, João Carlos Rodrigues, Noel Carvalho. Ela impulsiona o controle sobre a linguagem por meio de um conjunto que envolve argumento, roteiro, fotografia, interpretação e principalmente a direção.
    O segundo processo de reconhecimento é a perspectiva do racismo ser exercido no controle sobre as relações de produção materiais, pois o audiovisual é compreendido como prática social de teor industrial dentro de uma sociedade capitalista. Dessa forma, se faz necessário a obtenção de condições materiais para desenvolver o conteúdo, desde formação de profissionais até os meios de exibição. É relevado ao Estado nacional um papel chave a fim de promover maior diversidade frente os mecanismos de concentração capitaneados pelas majors estadunidenses e as Organizações Globo. Outro caminho é a apropriação dos meios de produção no atual estágio tecnológico que permite maior acesso: às ferramentas de produção; mecanismos de acesso, distribuição e exibição das obras; bem como estratégias de captação de recursos direta com o público e até mesmo negociação com plataformas de conteúdo gerenciadas por conglomerados multinacionais como o YouTube do grupo Google.
    Há o horizonte de que quanto mais pessoas negras envolvidas nestas etapas do reconhecimento maior será a possibilidade de autonomia sobre a obra, pois a experiência do corpo é associado ao processo de consciência, mesmo a considerar margens para um teor não essencialista, ou seja, negros e não negros podem reproduzir ou refutar opressões racistas na linguagem e na produção.
    Durante a apresentação, os dois processos de reconhecimento e os elementos conceituais do cinema negro vão ser conectados e ilustrados por obras que compõe marcos contemporâneos no Brasil. O primeiro é o lançamento do manifesto Dogma Feijoada (2001), foi a primeira vez que o termo cinema negro passou a sintetizar a perspectiva de reconhecimento da população negra nos temas e etapas que representam autoria sobre as obras, em especial a direção. Logo depois o Manifesto do Recife (2002) trouxe a necessidade do Estado corresponder com mecanismos de maior participação da população negra no mercado de trabalho, sob perspectiva de classe, bem como uma percepção mais ampla sobre os processos produtivos ao envolver a televisão e publicidade nas reivindicações, o que nos faz incorporar uma noção de audiovisual negro inerente às ações e formulações contemporâneas desta comunidade. O terceiro marco são os Encontros de Cinema Negro Brasil, África e Caribe organizados pelo Cine Afro Carioca a partir da liderança de Zózimo Bubul. O espaço é embutidos de dialogo transnacional. O quarto marco é o movimento cinema negro no feminino, no qual mulheres passam também a protagonizar a autoria e produção, permitindo a interseccionalidade entre raça, classe e gênero, e a valoração de uma epistemologia do feminismo negro (Collins, 2000).

Bibliografia

    ARAÚJO, Joel Zito Almeida de. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006
    CARVALHO, Noel dos Santos. Afinal Jeferson De. Introdução Jeferson De. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado e São Paulo: Cultura – Fundação Padre Anchieta, 2006.
    COLLINS, Patricia Hill (2000) Black Feminist Thought: knowledge, consciousness, and politics of empowerment. New York/London: Routledge
    FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
    JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2012.
    SOUZA, Edileuza de Penha. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade. Tese (doutorado) – UNB, Programa de Pós Graduação em Educação, 2013.
    GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012.