Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Catarina Andrade (UFPE)

Minicurrículo

    Doutoranda em Comunicação na UFPE é autora do livro As Fronteiras da Representação: imagens periféricas no cinema francês contemporâneo (2014) e co-autora dos livros Cinema, Globalização, Transculturalidade (2013), Filmes da África e da Diáspora (2012). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Interpretação Cinematográfica. Atua principalmente nos seguintes temas: subalternidade, cinema francês contemporâneo, cinema intercultural, imagens periféricas, representação, memória e identidade.

Ficha do Trabalho

Título

    Corpo, deslocamento e memória em Chocolat e Venus Negra

Resumo

    Este artigo analisa os possíveis desdobramentos discursivos em torno da representação do corpo feminino no cinema a partir de Chocolat, Claire Denis, e Vênus Negra, Abdellatif Kechiche. Buscaremos entender de que forma o cinema intercultural se faz dispositivo de representação de uma história cultural e memória, precisamente por meio do papel que o corpo (objeto de desejo, lugar de resistência, fronteira cultural e étnica, vestígio de história e memória) dos personagens femininos desempenha.

Resumo expandido

    Este trabalho pretende analisar os possíveis desdobramentos discursivos em torno da representação do corpo feminino no cinema. A discussão principal se dará em torno da história do colonialismo e de como as protagonistas se inserem e atuam nesta história por meio de um resgate da memória. Abordaremos, por meio de dois filmes do cinema francês contemporâneo, Chocolat, 1998, de Claire Denis e Vênus Negra, 2010, de Abdellatif Kechiche, o corpo enquanto objeto de desejo, lugar de resistência, fronteira cultural e étnica, ou mesmo enquanto vestígio de história e memória. Para tanto, entendemos que seja necessário também trazer para a discussão o conceito de cinema intercultural (intercultural cinema) definido por Laura Marks em seu livro The Skin of the Film. Para Marks, o cinema intercultural é um cinema que aponta para um contexto que não pode estar confinado a uma única cultura e sugere que os diretores interculturais são os que se identificam com mais de uma cultura e podem possuir mais de um repertório cultural (MARKS, 2000: 6-8). Para ela, o cinema também é capaz de criar novas imagens a partir da memória dos sentidos, pois possui qualidades táteis e contagiantes, com as quais o espectador se confronta como se estivesse se relacionado com um outro corpo, o do filme (MARKS, 2000: XII). A partir das considerações de Marks, queremos pensar os filmes de Denis e Kechiche enquanto cinema intercultural – não necessariamente afastando-os dos conceitos de accented cinema ou cinema beur, por exemplo, mas expandindo as possibilidades de reflexão – pela sua capacidade de abordagem interdisciplinar, por esses filmes serem capazes de dialogar com a experiência da representação da história e da memória cultural das populações representadas. Por meio de articulações teóricas, estéticas e políticas sobre essas imagens do feminino no cinema, e da análise desses filmes, buscaremos entender de que forma o cinema intercultural se faz dispositivo de representação de uma possível história cultural e memória, precisamente por meio do papel que o corpo (feminino) dos personagens desempenha. Portanto, analisaremos de que maneira esses corpos atuam numa tentativa de contar uma história de resistência do dominado proveniente da insubmissão intrínseca ao próprio corpo. Além disso, ambos os filmes trazem a tona uma discussão a respeito da representação do gênero e da sexualidade. Pois, enquanto Vênus Negra resgata a história de uma mulher, Saartjie ‘Sarah’ Baartman, da tribo africana hotentote que foi para a Europa com o intuito de ter uma carreira artística e termina por teu seu corpo tratado como objeto de desejo, de fascínio, de repulsa, estudado, e, posteriormente, exposto no Museu do Homem em Paris; Chocolat tem como personagem central uma jovem francesa, France, que vivera na África e volta a este país na tentativa de resgatar essa parte de sua história. Assim, a discussão que traremos se dará em torno da história do colonialismo, da complexidade das novas formas de convívio fixadas na pós-modernidade pelo multiculturalismo e a globalização, por exemplo, de como seus protagonistas se inserem e atuam nela por meio de um resgate da memória, e de como seus corpos, deslocados das paisagens de origem, atuam para a construção dessa história e memória culturais.

Bibliografia

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