Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Josette maria alves de souza monzani (UFSCar)

Minicurrículo

    Professora do Bacharelado e do Mestrado em Imagem e Som da UFSCar. Tem trabalhos publicados em livros e revistas acadêmicas sobre processos de criação e de transcriação vídeo-cinematográficos. Autora de Terra sonâmbula, de Teresa Prata: correntes de imagens, palavras, fantasias. Transcriação e imortalidade (Portugal: LabCom, 2013. www.livroslabcom.ubi.pt), entre outros textos.

Coautor

    Mario Sergio Righetti (UFSCar)

Ficha do Trabalho

Título

    A perambulação em Irreversível: subversão lírico-poética de Gaspar Noé

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    Essa comunicação visa refletir sobre as características estilísticas da perambulação no filme Irreversível do cineasta franco-argentino Gaspar Noé, de 2002, que se configuram através da montagem e dos movimentos de câmera (travellings, giros, rotações, close-ups) pontuando o gesto lírico-poético do narrador e o estado emocional dos personagens, e desvelando a representação dos deslocamentos temporal e espacial na diegese, em uma forma labiríntica e incômoda de discurso instigadora de posterior reflexão pelo espectador.

Resumo expandido

    Essa comunicação visa refletir sobre as características estilísticas da perambulação no filme Irreversível do cineasta franco-argentino Gaspar Noé, de 2002, que se configuram através da montagem e dos movimentos de câmera (travellings, giros, rotações, close-ups) pontuando o gesto lírico-poético do cineasta e o estado emocional dos personagens, e desvelando a representação dos deslocamentos temporal e espacial na diegese. Dessa forma, buscar-se-á a reconfiguração pós-moderna desse traço estilístico cinematográfico, principalmente através das teorizações de Jean Douchet sobre o aspecto da deambulação na Nouvelle Vague e de Ismail Xavier sobre a perambulação. Em Irreversível, pode-se dizer que a perambulação pode ser “técnico estilistica” – quando a câmera sobrevoa e revela os espaços urbanos e seus habitantes; e perambulação “mental/das consciências” – quando reflete as experiências sensório-afetivas dos protagonistas.
    Desde os primeiros minutos da narrativa de Irreversível, a partir dos travellings giratórios, aleatórios e nervosos, as perambulações figuram tanto a perseguição dos dois protagonistas atrás do estuprador/antagonista como também revelam o estado alterado de consciência daqueles. Dessa forma, a fluidez da câmera funciona como termômetro do estado psicológico dos personagens e a intensa movimentação dos quadros permite que Noé crie belas transições no tempo e no espaço: no tempo, em função do revés cronológico da narrativa, muitas vezes realizado através de cortes ocultos pela constante movimentação; e, no espaço, graças às fusões que se tornam imperceptíveis também através do movimento intenso.
    A obra Irreversível será abordada pelo aspecto sensorial da narrativa, com sua estética experimental intensificada pela câmera errante que vagueia como ‘testemunha’ e narrador não usual e resulta em um discurso nauseante e labiríntico, desestabilizador de certezas no espectador e instigador de sua reflexão posterior. Reflexão sobre a vida nas metrópoles na contemporaneidade e as regras de convivência social nelas em vigor, em uma visão incômoda por parte do diretor – posto que busca tirar o público de sua zona de conforto existencial.

Bibliografia

    CHARNEY, L. e SCHWARTZ, V. O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: CosacNaify, 2001.

    COURTINE, J.J. História do corpo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

    DOUCHET, J. O corpo. In: OLIVERIA, Luis Miguel (Org.). Nouvelle Vague. Lisboa: Cinemateca Portuguesa/ Museu do Cinema, 1999.

    NOÉ, G. Irréversible. 2002. Drama. 97 minutos. França. Cor. Distribuição: Lion’s Gate Films.

    OLIVEIRA Jr., L. C. G. O cinema de fluxo e a mise en scène. 2010. 161 p. Dissertação
    (Mestrado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

    UCHÔA, F. R. Perambulação, silêncio e erotismo nos filmes de Ozualdo Candeias (1967-83). Tese de Doutorado em Ciência da Comunicação – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2013.

    XAVIER, I. O Cinema Marginal Revisitado ou o avesso dos anos 90. In: PUPPO, E.; HADDAD, V. (Org.). Cinema Marginal e suas fronteiras. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2001. pp. 21-23.