Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Sérgio Puccini Soares (UFJF)

Minicurrículo

    Sérgio Puccini é professor adjunto do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design, Universidade Federal de Juiz de Fora (IAD-UFJF). Mestre e doutor em cinema pelo Programa de Pós-Graduação em Multimeios IA-UNICAMP. Pós-doutor pela Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, com bolsa da FAPEMIG. É autor do livro Roteiro de documentário, da pré-produção à pós-produção (Papirus, 2015).

Ficha do Trabalho

Título

    Antoine Bonfanti e a escuta do mundo em documentários não controlados

Seminário

    Teoria e Estética do Som no Audiovisual

Resumo

    A comunicação pretende fazer uma apresentação de resultados de pesquisa, financiada pela FAPEMIG, no qual estudamos o trabalho de Antoine Bonfanti na captação de som direto no documentário. Um dos mais renomados técnicos de som franceses, Bonfanti foi um nome chave na introdução do som direto na França a partir da realização de Le joli mai (Chris Marker, Pierre Lhomme, 1962). Tendo como base a coleta de um extenso material de entrevistas e depoimentos, pretendemos traçar alguns pontos centrais dentro daquilo que iremos chamar de a escuta do mundo em situação de filmagem. Mais do que uma simples escuta isolada, iremos dar ênfase à relação estabelecida entre a captação de som e o trabalho de captação de imagens, câmera-som.

Resumo expandido

    A comunicação pretende fazer uma apresentação de resultados de pesquisa de pós-doutorado desenvolvida junto a Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3, financiada pela FAPEMIG, no qual estudamos o trabalho de Antoine Bonfanti na captação de som direto no documentário. Engenheiro de som, operador de som e mixagem, Bonfanti foi um nome comum no créditos dos filmes da nouvelle vague e nos documentários feitos por toda uma geração dos anos 1960 associada ao documentário direto, como Chris Marker e William Klein. São documentários que possuem uma especial ênfase na captação direta do som, campo em que Bonfanti irá se destacar, chegando a ser chamado de “o papa do som direto” . Tendo como base a coleta de um extenso material de entrevistas e depoimentos de, e sobre, Antoine Bonfanti, pretendemos fazer um mapeamento das especificidades no trabalho de captação do som em situação de mundo, aquilo que iremos chamar de “escuta do mundo”. Mais do que uma escuta isolada, iremos dar ênfase à relação estabelecida entre a captação de som e o trabalho de captação de imagens, câmera-som. Essa escuta se dá a partir da intermediação de um aparato técnico: um gravador de áudio portátil, microfones, normalmente direcionais, cabos e fones de ouvido, e irá orientar o operador de áudio a assumir posições diante do evento filmado e, principalmente, a posicionar seu microfone para a melhor captação daquilo que lhe interessa. Esse trabalho será condicionado à interação entre operador de áudio e cinegrafista. Como recorte, a comunicação irá se concentrar no período dos anos 1960 tendo dois filmes como base Le joli mai (Chris Marker, Pierre Lhomme, 1962) e À bientôt, j’espère (Chris Marker, Mario Marret, 1968). Filme chave para entendermos o trabalho de Antoine Bonfanti no documentário, Le joli mai vem a ser uma das primeiras experiências de som direto na França. Segundo Bonfanti, “Em Le joli mai era necessário inventar tudo. Era a primeira vez que o som saía verdadeiramente à rua. (…) Era preciso inventar a vara de boom, encontrar os microfones convenientes a essa situação, os suportes anti-vento…” . A experiência adquirida no filme de Marker permitirá a Bonfanti toda uma descoberta de potencialidades na captação de som que orientará não apenas o seu trabalho posterior, mas o de Pierre Lhomme, cinegrafista de coautor de Le joli mai. A parceria entre Chris Marker, Pierre Lhomme e Antoine Bonfanti será mantida em À bientôt, j’espère, documentário que marca o início das atividades do coletivo de produção Les Groupes Medvedkine, formado por uma grande lista de cineastas, técnicos de cinema, intelectuais e operários de indústrias de Besançon e Sochaux, na França. Antoine Bonfanti terá atuação intensa no Grupo Medvedkine, entre 1968 e 1974, juntamente com Pol Cèbe, Bruno Muel, Michel Desrois, Jean-Pierre Thiébaud, Théo Robichet, entre outros.
    Essa pesquisa contou com o apoio do IRCAV – Institut de recerche sur le cinema et l’audiovisual, da Universidade Paris III, tendo a colaboração do Prof. François Thomas.

Bibliografia

    BOUCHARD, Vincent. Pour un cinéma léger et synchrone!. Villeneuve-d’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 2012.
    GAUTHIER, Guy (et al). Le documentaire passe au direct. Montreal: VLB Éditeur, 2003.
    GRAFF, Séverine. Le cinéma-vérité, films et controverses. Renne: PUR, 2014.
    MAMBER, Stephen. Cinema verite in America, studies in uncontrolled documentary. Cambridge, Massachusetts, London: The MIT Press, 1974.
    MARKER, Chris. Hommage à Antoine Bonfanti. Paris: Images Documentaires 59/60, 2006/07.
    MARSOLAIS, Gilles. L’aventure du cinema direct. Paris: Éditions Seghers, 1974.
    NOUGARET, Claudine; CHIABAUT, Sophie. Le son direct au cinema. Paris: FEMIS, 1997.
    POSITIF, revue mensuelle de cinéma. Paris. Numero 433, Mars, 1997.
    PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário, da pré-produção à pós-produção. Campinas: Papirus, 2015.
    THOMAS, François. Musique et son directs dans les films “parallèles” de Jacques Rivette. Paris: Positif n° 367, septembre 1991, pp. 17-20.