Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Priscilla Barbosa Durand (UFPE)

Minicurrículo

    Priscilla Durand é graduada em comunicação social pela Universidade Federal da Paraíba. Mestrado em comunicação em exercício na Universidade Federal de Pernambuco sendo bolsista da Facepe (Fundação da Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco). Pesquisa e trabalha com cinema e novas tecnologias. Dirigiu e produziu um curta em 3D estereoscópico em parceria com o Lavid da UFPB (Laboratório de vídeo digital), já ministrou palestras e oficinas para a prefeitura de João Pessoa sobre audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    A MISE EN SCÈNE DOS FILMES EM 3D ANAGLIFO COMPARADO AOS POLARIZADOS

Resumo

    O objetivo deste trabalho é analisar a mise-en-scène do filme em 3D anaglifo Disque m para matar realizado na década de 50 – anos dourados do cinema em 3D – comparando com a mis-en-scène do filme em 3D polarizado Adeus à linguagem, a partir disso, defende-se o pressuposto de que essa tecnologia tem o potencial de formar um campo de experimentações cinematográficas, contribuindo para a criação de novas linguagens e experiências estéticas discutindo suas características e sua potencialidade de se tornar uma nova linguagem avaliando o impacto da encenação.

Resumo expandido

    O cinema é a sétima arte, por excelência, da imagem em movimento, porque, além de suas características peculiares – a forma do filme – associa elementos da literatura, da música, da arquitetura, das artes cênicas. Ao tratarmos da observação do filme, leitura e interpretação, é importante lembrarmos que o filme é regido de acordo com técnicas especificas (AUMONT, 1993). Sendo assim, desde os seus primórdios, o cinema é uma arte que se desenvolve em paralelo a sua tecnologia, agregando a sua linguagem – estilo do filme – aspectos tecnológicos. Bordwell (2008) nos dá exemplos sobre como a tecnologia modifica nossa encenação cinematográfica a sua mis-en-scène, ele enfatiza o uso das novas tecnologias utilizadas no cinema, ao citar, por exemplo, a steadicam. O steadicam permitiu trabalhar novas linguagens, planos cinematográficos, explicando assim uma mudança de estilo em determinado grupo de diretores. No cinema, o artista lança mão dos meios tecnológicos que ele tem à disposição para os seus fins artísticos. O 3D é uma forma de arte que absorveu os novos dispositivos tecnológicos na criação artística. Por isso, quando muda o meio, muda também a forma de fazer arte e aparecem novas possibilidades para o artista. Conforme lembra Santaella (2003), quando surge um novo meio, há uma interessante transição: primeiro, ele provoca um impacto sobre as formas e meios mais antigos; segundo, a linguagem que nasce dentro desse novo meio é tomada pelo artista como forma de experimentação. Com o surgimento da tecnologia 3D anaglifa no cinema na década de 50 – Naturalvision – que consistia em uma imagem que passa a ter um efeito estereoscópico (tridimensional) quando visualizada através de uns óculos feitos de cartolina e lentes de plástico azul e vermelho, a arte cinematográfica ganha um novo meio de criação e experimentação (ZONE, 2007). Esse trabalho visa perceber como uma mudança tecnológica estereoscópica foi experimentada e efetivamente utilizada pelas narrativas cinematográficas como procedimento estilístico e narrativo, comparando com os filmes em 3D na atualidade onde se utiliza a técnica polarizada; como é o caso de Adeus à Linguagem (Adieu Au Langage, Jean-Luc Godard, 2014).
    O objetivo deste trabalho é fazer uma comparação da mise-en-scène do filme em 3D anaglifo Disque M para matar (Dial M for murder, Alfred Hitchcock, 1954). Uma das cenas criadas para se ter maior repercussão no filme Disque M para matar, é quando a Grace Kelly está sendo estrangulada e estende sua mão em direção à plateia. Comparando com o filme polarizados atual Adeus à Linguagem, o 3D é explorado no filme com toda profundidade de campo, uma das cenas mais belas são as folhas que flutuam em um tanque onde mãos mergulham para se lavarem. A sensação de intimidade é potencializada pelo 3D, o espectador se torna parte da cena, olhando entre as plantas, abajur e os vasos. Como era a mise-en-scène dos primeiros filmes anaglifos? E como é a mis-en-scène dos filmes polarizados hoje? O que eles ofereciam e oferecem a mais em sua linguagem para atrair ao público? Acrescentava significação à narrativa cinematográfica? O que muda na encenação do filme “normal” para o filme em 3D? Que ajustes um cineasta precisava realizar no seu estilo – na forma de filmar – para utilizar corretamente as possibilidades expressivas do 3D? O papel do diretor na mis-en- scène é criar significado dentro do que acontece em cada plano. A composição dos atores e objetos, suas movimentações dentro do enquadramento, isso deve significar tudo dentro de um filme. As novas tecnologias de imagens dentro da narrativa apontam para essa característica dinâmica, da imagem como ‘’vivo’’ e como tecnologia decisiva de produção de conhecimento, observação e controle (FELINTO, 2010). É interessante perceber como os métodos de visualização em 3D anaglifo e polarizado, proporcionaram a possibilidade de novos usos estéticos nas narrativas cinematográficas, caracterizando, assim, uma mis-en-scène.

Bibliografia

    AUMONT, J; MARIE,M: A análise do filme. Lisboa: Texto e Grafia LTDA, 2004.

    BORDWELL, David. Figuras Traçadas na Luz: A encenação do cinema. Campinas, SP. Papirus, 2008.
    __________________. Sobre a História do Estilo Cinematográfico. Campinas, SP. Editora da Unicamp, 2013.

    CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: Visão e modernidade no século XIX. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012

    FELINTO, Erick e BENTES, Ivana. Avatar – o futuro do cinema e a ecologia das imagens digitais, Porto Alegre – RS, Editora Sulina, 2010.

    MENDIBURU, Bernard. 3D Movie Making: Stereoscopic Digital Cinema from Script to Screen, Miami, Focal Press 2009.

    SANTAELLA, Lucia. Cultura e Artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

    TRICART, Celine. 3D Filmmaking: Techniques and Best Practices for Stereoscopic Filmmakers. French: Focal Press, 2016.

    ZONE, Ray. Stereoscopic Cinema & the Origins of 3D Film, 1838-1952. University Press of Kentucky, 2007.