Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Plaza Pinto (UFPR)

Minicurrículo

    Professor no Departamento de História e no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2003) e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2008). Foi professor substituto na UFG e na UNESPAR. Publicou artigos em revistas (Contracampo, Significação, Antíteses, etc) e capítulos de livros editados no Brasil (Arte e política no Brasil e Eichmann em Jerusalém 50 anos depois).

Ficha do Trabalho

Título

    Expectativa e figuração de Pasolini no debate de Dahl com Paulo Emilio

Mesa

    Confluências Pasolinianas

Resumo

    Estudo da origem e do seguimento do debate entre Gustavo Dahl e Paulo Emilio Salles Gomes durante a emergência do cinema novo. Percebe-se o desajuste de expectativas sobre as tarefas urgentes e o em relação ao movimento da juventude, mas também a confluência de ideias sobre o papel da literatura e da crítica na estratégia de difusão e definição estética dos movimentos. É central a referência a Pasolini como intelectual revolucionário na troca de missivas entre mestre e discípulo, onde Gustavo Dahl elabora suas ideias a partir das suas perambulações pela Europa, .

Resumo expandido

    O artigo “Desconfiança de Bolognini”, de outubro de 1960, publicado no Suplemento Literáio d´O Estado de São Paulo, traz uma tentativa de Paulo Emilio Salles Gomes de prever a importância que o então escritor e roteirista Pier Paulo Pasolini poderia ter para a próxima geração do cinema italiano. O crítico chega a falar de “o Zavatttini do nosso tempo” para comparar o papel eminente de um e de outro, ambos escritores, para as respectivas gerações. O romance Ragazzi de vita é a referência para Paulo Emilio avaliar o desencontro entre o protesto social de Pasolini e o projeto de “pitoresco delirante” de La Notte Brava, de Bolognini (A longa noite de loucuras, 1959), causando estranheza no crítico a contribuição do primeiro ao roteiro do filme.
    O gesto de definir a contribuição do literato ao cinema italiano daquele período e de perceber o hiato entre a obra de Pasolini e o filme de Bolognini nos conduz ao tema da comunicação, da crítica de cinema em diálogo com os seus leitores, sendo alguns deles jovens cineastas e articuladores do movimento do Cinema Novo, mas também com desencontro de expectativas.
    No caso específico, perceberemos que, mesmo antes de estrear como cineasta, Pasolini já compõe o quadro que Paulo Emilio procura traçar. Verifica-se, dois anos depois, em longa troca de extensas cartas com Gustavo Dahl, que o apontamento surtira efeito. Dahl remete a conversas com Glauber e testemunha ao amigo e conservador da Cinemateca Brasileira a presença de Pasolini em debate com cineastas russsos em Roma, ocasião na qual o espírito revolucionário e a questão do estalinismo foram discutidas.
    A intensa troca de missivas se iniciara no ano anterior, quando Gustavo Dahl é enviado a Roma, de onde escreve, para participar como representante da cinemateca no Congresso de Federação Internacional de Arquivos Fílmicos (FIAF, 1962). A expectativa de Paulo Emilio era contar com Gustavo Dahl para as discussões sobre a realidade das cinematecas e para a sua contribuição ao projeto da Cinemateca Brasileira de ser mediadora nos conflitos que pairavam sobre a entidade.
    Dahl não corresponde ao desejo de Paulo Emilio em se tornar mais ativo no mundo dos arquivos fílmicos e da crítica cinematográfica. Por seu lado, discute filmes, demonstra a vontade de articulação dos jovens colegas e de definição paradigmas do cinema novo emergente. O desencontro de propósitos não impede que o diálogo epistolar ocorra com momentos luminares, como quando Dahl justamente aproxima Zavattini e Pasolini no mesmo fluxo discursivo a propósito da Itália estar vivendo a sua Nouvelle Vague.
    O objetivo da comunicação é demarcar este diálogo entre mestre e discípulo através do estudo de como a figura de Pasolini passa a ser uma referência estético-ideológica para o Cinema Novo entre os anos de 1959 e 1963. Mesmo antes de comparecer como diretor de filmes, Pasolini é apontado por Paulo Emilio como um dos possíveis responsáveis pelo “fato novo” La Dolce Vita (Fellini, 1960), no qual constara como um dos colaboradores literários. Paulo Emilio antecipa a questão do protesto social no primeiro momento da obra cinematográfica de Pasolini e fecunda o panteão cinemanovista apontando o vínculo profundo entre cinema e literatura desde o exemplo italiano a partir do neorealismo, de Zavattini, e da nova geração do cinema italiano representada por Pasolini.

Bibliografia

    DAHL, Gustavo. Carta para Paulo Emilio Salles Gomes. Roma, 1962.07.25. 12 p. Datilografado. Cinemateca Brasileira. Acesso: BR CB PE/CP. 1553.
    DAHL, Gustavo. Carta para Paulo Emilio Salles Gomes. Paris, 1963.02.21. 6 p. Datilografado. Cinemateca Brasileira. Acesso: BR CB PE/CP. 1557.
    FABRIS, Mariarosaria. “A margem da redenção: considerações sobre Accattone”. Revista de Italianística, São Paulo, n. 1, jul. 1993, p. 91-99.
    GOMES, Paulo Emilio Salles. Carta para Gustavo Dahl. São Paulo, 1962.08.28. 2 p. Datilografado. Cinemateca Brasileira. Acesso: BR CB PE/CA. 0648.
    GOMES, Paulo Emilio Salles. Crítica de cinema no Suplemento Literário. v. 2. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1982.
    XAVIER, Ismail. “O cinema moderno segundo Pasolini”. Revista de Italianística, São Paulo, n. 1, jul. 1993, p. 101-109.
    XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo : Paz e Terra, 2001.